Requeima da batata e tomate

Por José Otávio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor Sênior da ESALQ/USP

08.09.2021 | 20:59 (UTC -3)

A requeima, devido à sua agressividade, é uma das doenças de plantio mais devastadoras da história da humanidade, que causou, entre 1845 e 1850, redução de 80% de produção de batata na Irlanda. Como era o alimento básico da população, cerca de 2 milhões de pessoas morreram de fome e 1 milhão emigraram. O agente causal só foi identificado em 1861. Atualmente, ocorre em todas as regiões do mundo onde se cultivam batata e tomate.

No Brasil, é uma das principais doenças das culturas, pela frequência de ocorrência e danos ocasionados. Também chamada de míldio, mela, crestamento ou mufa, é causada pelo fungo “oomiceto” Phytophthora infestans. Os danos podem ser severos, chegando a 100%. O patógeno sobrevive em restos de cultura, plantas hospedeiras e oósporos. É disseminado principalmente pela chuva, implementos agrícolas, água de irrigação e vento, através de esporângios e zoósporos. Temperatura entre 15 e 25°C, umidade relativa superior a 90% e mais que 10-12 horas de molhamento foliar, são condições necessárias para infecção.

Os sintomas podem surgir em todos os estágios de desenvolvimento das plantas e são mais evidentes na parte aérea. Nas folhas e folíolos surgem, inicialmente, lesões pequenas, irregulares, verde escuro; posteriormente tornam-se maiores, quase pretas, com aspecto de queima e com halo encharcado. Na superfície inferior das folhas pode surgir crescimento esbranquiçado, que são estruturas de multiplicação do fungo. As lesões podem estar presentes também nas hastes e caule, como lesões pardas, podendo haver anelamento e morte da parte superior. Nos tubérculos de batata e em frutos de tomate, as lesões são do tipo podridão dura, de cor pardo-escura, profundas e de superfície irregular; pode haver um crescimento esbranquiçado na superfície, constituído de estruturas do patógeno. A doença pode causar a morte das plantas.

O manejo da requeima é realizado, principalmente, pela aplicação de fungicidas. O manejo integrado envolve a escolha de local e época de cultivo, evitando baixadas e áreas mal drenadas, onde o ambiente é favorável à doença. A população de plantas deve ser adequada, proporcionando a ventilação da plantação. A adubação deve ser equilibrada, oss materiais de propagação devem ser sadios e é importante realizar a rotação de culturas e destruição de plantas doentes. Tanto em batata como em tomate, não existem cultivares com elevado nível de resistência, entretanto existem quase 200 fungicidas comerciais registrados para o controle da requeima em batata e tomate. Entre estes, se destacam produtos específicos, imunizantes/curativos e sistêmicos a base de cimoxanil, metalaxil-M, benalaxil, mandipropamida, dimetomorfe, propamocarbe e bentiavalicarbe isopropílico e não-específicos, protetores e não-sistêmicos como mancozebe, clorotalonil, fluazinam, propinebe e cúpricos. É importante fazer a alternância ou mistura de fungicidas, com diferentes mecanismos de ação, para reduzir a possiblidade do surgimento de linhagens resistentes de Phytophthora infestans.


José Otávio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo e Professor Sênior da ESALQ/USP

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