Florestas plantadas melhoram a qualidade de vida no planeta
Por Elcio Trajano Junior, diretor de RH, Sustentabilidade e Comunicação Interna da Eldorado Brasil Celulose
Praga agressiva e polífaga, capaz de se alimentar em diferentes plantas hospedeiras, Helicoverpa armigera é responsável por prejuízos anuais em torno de 5 bilhões de dólares. Presente em todos os estados brasileiros, estudos sobre aspectos biológicos do desenvolvimento deste inseto em diferentes cultivos, como soja, algodão, milho e trigo é de fundamental importância para o sucesso no manejo.
Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) é uma das principais pragas agrícolas do mundo, por ser considerada uma espécie polífaga, isto é, se alimenta de diferentes plantas hospedeiras, que se adapta facilmente a diferentes tipos de ambientes, possuir grande capacidade de dispersão, auto índice de reprodução e elevado poder de causar danos nos cultivos.
Em função disso, sua presença tem sido registrada em várias regiões do mundo, como na África, Europa, Ásia e Oceania. Em 2013, lagartas de H. armigera foram constatadas alimentando-se de diferentes culturas e plantas daninhas em alguns estados brasileiros, causando redução de até 80% na produção de algodão e perdas expressivas em soja e milho, o que exigiu maior aplicação de inseticidas para o seu controle, elevando-se assim o custo de produção dessas culturas. Os prejuízos causados por esta praga chegam anualmente a 5 bilhões de dólares. Sua presença já foi constatada em mais de 170 gêneros de plantas, incluindo culturas como algodão, soja, milho e trigo. As lagartas desta espécie, embora ingiram folhas nos primeiros instares larvais, possuem preferência para se alimentar das estruturas reprodutivas dos hospedeiros, como botões florais, frutos, maçãs, espigas, panículas e inflorescências.
Estima-se que H. armigera esteja atualmente presente em praticamente todos os estados brasileiros. Em razão da sua incidência no Brasil e do alto risco de perdas causadas pelo seu ataque, é importante conhecer bem a praga, saber como realizar a sua identificação correta bem como implementar algumas técnicas de manejo, afim de obter boa produtividade nos cultivos. As diferentes plantas nas quais esta espécie se hospeda influenciam na sua sobrevivência, a duração, o número de instares, a intensidade do consumo larval, bem como a fecundidade e longevidade dos adultos. Assim, estudos sobre aspectos biológicos quando H. armigera se desenvolve em diferentes hospedeiros é de fundamental importância para o sucesso de seu manejo.
É possível calcular a capacidade de crescimento da população de H. armigera quando criada em diferentes culturas. Isso é essencial para compreender sua taxa de mortalidade, de sobrevivência, o tempo de desenvolvimento e sua capacidade reprodutiva. Esses dados ecológicos são fundamentais para avaliar a adequação de diferentes plantas hospedeiras com relação ao desenvolvimento da praga.
Trabalhos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste evidenciaram que a criação de H. armigera em dieta artificial, assim como em diferentes plantas hospedeiras apresentou resultados diferentes quanto a duração e sobrevivência deste inseto-praga (Tabela 1). Possivelmente, as melhores características nutricionais da dieta artificial foram determinantes para que houvesse essa melhoria no desenvolvimento e na viabilidade das larvas, indicando que este alimento é adequado para a alimentação das larvas de H. armigera, em comparação às plantas hospedeiras testadas. Esses resultados ratificam o sucesso da criação de H. armigera em condições de laboratório utilizando a dieta artificial. Por outro lado, embora os insetos tenham completado o ciclo de vida nas culturas do milho e do trigo, as avaliações da duração e a viabilidade larval indicaram que estes hospedeiros são menos adequados para o desenvolvimento de H. armigera, em comparação à soja e ao algodão.
As lagartas de H. armigera pouco se alimentavam das folhas de milho e trigo, o que não ocorreu para as partes reprodutivas destes hospedeiros (grãos de milho e panículas de trigo). Provavelmente as características físicas e químicas presentes nas folhas do milho e do trigo foram responsáveis pela longevidade larval superior e menor viabilidade larval em comparação à dieta artificial (Tabela 2). As larvas de H. armigera quando alimentadas apenas com folhas de milho podem também não completar esta fase de desenvolvimento.
A duração do período larval é um parâmetro importante, pois indica se o alimento utilizado é adequado ou não para a alimentação das larvas. Além disso, os maiores índices de mortalidade larval em milho e trigo podem ser justificados pela dureza das folhas e/ou alto conteúdo de hemicelulose, que estão normalmente presentes nas folhas destes hospedeiros, em especial do milho.
Constatou-se uma inadequação dos hospedeiros milho e trigo para a alimentação de lagartas de H. armigera, refletindo na fase de pupa, que apresentaram maior mortalidade pupal. O peso de pupas também é um parâmetro importante, pois pode indicar se um hospedeiro é adequado para o desenvolvimento bem como para a fecundidade do inseto. Houve diferença quanto à fecundidade quando o inseto foi criado com os diferentes tipos de alimento (Tabela 3). A maior fecundidade diária das fêmeas de H. armigera registrada no algodão indica que este hospedeiro é adequado para o desenvolvimento desta praga. O mesmo também foi observado para a fecundidade total, quando os adultos criados em algodão ovipositaram 64% e 95% a mais, respectivamente, em comparação ao milho e trigo. A capacidade de conversão do alimento assimilado na fase larval e as características do próprio inseto podem gerar consequências na fecundidade dos adultos de H. armigera.
A taxa líquida de reprodução (Ro), isto é, o número médio de fêmeas gerado por fêmea ao longo do período de oviposição foi superior em algodão, uma vez que apresentaram um número de descendentes produzidos/fêmea e taxa de sobrevivência dos adultos fêmeas elevadas (Tabela 4). Os menores valores de Ro e rm (velocidade de crescimento da população) são registrados para o milho e o trigo, que tiveram também baixa fecundidade e mortalidade mais alta no período reprodutivo. Isso enfatiza a baixa adequação destes hospedeiros para o desenvolvimento de H. armigera.
O número de indivíduos adicionados à população/fêmea/dia indicam ser o algodão e a soja os hospedeiros também mais adequados para o desenvolvimento da praga. O tempo que a população de H. armigera leva para duplicar em número (TD) foi maior em trigo e milho devido à baixa fecundidade e alta mortalidade de adultos ao final do período reprodutivo. Esse tempo de duplicação foi menor no algodão e na dieta artificial, sugerindo que o inseto, quando criado nestes alimentos, tende a aumentar em número mais rapidamente.
A proporção de macho:fêmea de H. armigera nos hospedeiros avaliados foi de 1:1, portanto, com uma razão sexual de 0.5. Para o ritmo de emergência de adultos macho e fêmea de H. armigera, a maioria dos insetos emergiu no máximo até aos onze dias do desenvolvimento pupal (Figura 1). Mais de 80% das posturas foram realizadas nas duas primeiras semanas de oviposição para todos os hospedeiros avaliados. O pico de oviposição das mariposas criadas em milho e trigo ocorreu nas duas primeiras semanas e decresceu progressivamente após esse período (Figura 2). Em soja e algodão a postura também se concentrou nas primeiras duas semanas, mas teve um padrão mais uniforme e estável ao longo do período de oviposição.
Com base nos resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se inferir que o manejo de H. armigera na cultura do milho e trigo, principalmente em relação à aplicação de defensivos agrícolas, deve levar em consideração que nestas culturas poderá haver uma população inicial reduzida dessa praga no campo, em comparação à soja e algodão, uma vez que estes hospedeiros apresentaram alta mortalidade larval e pupal e um baixo potencial biótico. Ao considerar que as mariposas ovipositaram por um período mais longo em algodão e soja, isso pode aumentar o potencial de dano causado pelas lagartas nesses cultivos.
Os hospedeiros algodão e soja apresentaram maior viabilidade nas fases de desenvolvimento, maior taxa de sobrevivência de adultos fêmea no período reprodutivo e fecundidade superior aos demais hospedeiros testados e semelhantes para os insetos criados em dieta artificial, evidenciando que estes dois hospedeiros podem ser adequados para a criação de H. armigera como dieta natural.
Os parâmetros da tabela de vida de fertilidade indicam ser o milho e o trigo os hospedeiros menos adequados para o desenvolvimento da população de H. armigera, uma vez que apresentaram valores inferiores de Ro (taxa líquida de reprodução), de rm (capacidade de aumentar em número) e de λ (razão finita de aumento) em comparação aos demais hospedeiros.
Artigo publicado na edição 223 da Cultivar Grandes Culturas, mês dezembro 2017/janeiro 2018.
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