Hortaliças baby leaf: um mercado em ascensão

Hortaliças baby leaf constituem um mercado em ascensão na horticultura brasileira e mundial

14.09.2016 | 20:59 (UTC -3)

O conceito baby leaf integra hortaliças como alface, agrião, beterraba e rúcula, entre outras espécies, com folhas ainda não expandidas completamente e colhidas precocemente em relação ao tempo em que tradicionalmente se costuma colher para consumo.

As folhas baby, ou baby leaf, são macias, saborosas e podem apresentar diferentes cores e formatos, dependendo da espécie utilizada e devido a esses motivos já conquistaram os consumidores em países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão.

No Brasil, esse nicho de mercado tem despertado interesse de produtores, consumidores e chefes de restaurantes, que buscam sempre novidades.

A introdução da baby leaf no mercado brasileiro desperta a curiosidade dos consumidores e também pode auxiliar a estimular o consumo de hortaliças por parte da população, inclusive das crianças, que têm simpatia por produtos de tamanho reduzido e cores diversificadas. Segundo os últimos números oficiais, o consumo de hortaliças no Brasil ainda é pequeno, média de 73,9g por habitante por dia, se comparado aos países da Europa e América do Norte que possuem um consumo médio de 411,2g por habitante/dia.

No mercado brasileiro, a baby leaf pode ser encontrada em comercialização na forma individualizada, com apenas uma espécie ou em uma mescla de diversas espécies com folhas de diferentes formatos, cores, texturas e sabores. A mescla de folhas possibilita ao produto melhor valor nutricional, além de agradável aspecto visual.

Outra vantagem da baby leaf é sua praticidade. Existe versão do produto onde as folhas são comercializadas higienizadas e embaladas, ou seja, prontas para o consumo. Nesse caso, basta abrir a embalagem e iniciar o preparo da salada in natura ou cobrir a pizza com alface ou rúcula sem ter o trabalho de cortar as folhas. Além das folhas soltas de baby leaf, também estão sendo comercializadas plantas inteiras ainda jovens, produzidas em sistema hidropônico, embaladas com o sistema radicular. Nesse caso, cabe ao consumidor a tarefa de separar as folhas baby do restante da planta e higienizá-las para o consumo.

Com relação aos canais de comercialização, o produto já é encontrado em supermercados, principalmente, os de maior porte. Porém, restaurantes, hotéis e buffets, que buscam oferecer produtos e pratos cada vez mais criativos em seus cardápios, com aspecto visual mais atrativo aos olhos e ao paladar, já oferecem a baby leaf aos seus clientes.

Com relação ao tamanho das folhas baby, não existe classificação oficial para a comercialização. O comprimento das folhas depende da espécie e da forma de utilização. Sugere-se tamanho para as folhas variando entre 5cm a 15cm de comprimento para serem consideradas baby leaf.

Detalhe de baby leaf de rúcula com diferentes comprimentos. Instituto Agronômico, Campinas, SP. Foto: Purquerio LFV

Para utilização como componente de pratos e canapés, o tamanho das folhas baby de 5cm pode ser uma opção. Em restaurantes do tipo self service e buffets, onde existe a necessidade de que as folhas para consumo in natura caibam dentro dos recipientes em que são servidas, folhas de 10cm a 15cm seriam mais interessantes que folhas grandes, picadas, que acabam ficando com aspecto visual menos agradável.

Com relação à sua produção, pode ser realizada no solo, dentro ou fora de ambiente protegido, em sistemas hidropônicos e em bandejas utilizadas para produção de mudas.

No exterior, em regiões com clima semiárido da Europa e Estados Unidos, o cultivo é realizado no solo, em campo aberto, com mecanização no plantio e na colheita devido ao grande número de sementes empregado por hectare, que pode variar de dois a seis milhões. Nesse tipo de cultivo o custo com a mecanização é grande (ainda não utilizado no Brasil).

O cultivo também pode ser realizado em sistema hidropônico tipo NFT (Nutrient Film Technique), pela velocidade de produção e qualidade do produto obtido. Porém, o custo de instalação e manutenção do sistema é alto. Esse sistema está sendo utilizado por alguns produtores no estado de São Paulo para produção de baby leaf para a comercialização das plantas inteiras com o sistema radicular.

Cultivo de baby leaf de diversas espécies em sistema hidropônico tipo NFT. Foto: Purquerio LFV

O sistema de produção em bandejas também é uma alternativa de produção para a baby leaf. Nesse sistema de produção, a condução das plantas é mais simples de ser realizada que no sistema hidropônico e também apresenta menor custo, porém, ainda necessita do desenvolvimento de maquinário para realizar a colheita, se o objetivo for a produção em escala.

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) tem desenvolvido pesquisa com a produção de baby leaf. No sistema com o uso de bandejas, os estudos do IAC já avaliaram a produção de agrião, alface, beterraba e rúcula em sete diferentes volumes de célula (15cm3, 24cm3, 27cm3, 31cm3, 55cm3, 70cm3 e 100cm3) de bandejas utilizadas para a produção de mudas de hortaliças e constataram que a melhor opção para os produtores são as bandejas com volume de célula de 24cm3, 27cm3 e 31cm³, dependendo da espécie cultivada.

Estudos com baby leaf, tema de dissertações de mestrado, foram desenvolvidos pelos alunos Alex Humberto Calori e Lívia Aguiar Sumam de Moraes, do Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical, do Instituto Agronômico, coordenados pelo pesquisador Luís Felipe Villani Purquerio.

Um dos estudos foi desenvolvido no Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Nordeste Paulista (Mococa, SP). Esse estudo avaliou a produtividade de quatro espécies de hortaliças (agrião, alface, beterraba e rúcula) em sistema hidropônico NFT, variando-se a condutividade elétrica da solução nutritiva (0,4mS cm-1, 0,8mS cm-1, 1,2mS cm-1 e 1,6mS cm-1) e o espaçamento entre plantas (2,5cm; 5cm e 10cm). Na Figura 1, pode-se verificar a vista geral dos cultivos realizados com agrião, alface, beterraba e rúcula.

Figura 1 - Produção experimental de baby leaf de agrião (A), alface (B), beterraba (C) e rúcula (D) em função da condutividade elétrica da solução nutritiva e do espaçamento entre plantas em sistema hidropônico NFT. Foto: Calori AH

Como resultado da pesquisa verificou-se a possibilidade de produzir baby leaf, das diferentes espécies estudadas, em concentrações da solução nutritiva inferiores à recomendada por Furlani e colaboradores, de 2mS/cm para hortaliças folhosas adultas e superiores à recomendação de aproximadamente 1mS/cm para mudas das mesmas espécies. Para agrião, beterraba e rúcula a condutividade elétrica da solução nutritiva que possibilitou as maiores produtividades foi de 1,6mS/cm e para a cultura da alface de 1,4mS/cm.

O espaçamento entre plantas também resultou em diferença na produtividade das espécies estudadas. O espaçamento que possibilitou as maiores produtividades foi o de 2,5cm. Verificou-se 5,9kg m-2; 4,9kg m-2; 4,2kg m-2 e 4kg m-2 para agrião, alface, beterraba e rúcula, respectivamente.

O segundo estudo, desenvolvido no Parque Tecnológico do Centro de Horticultura, no IAC, teve por objetivo verificar o efeito da reutilização do substrato fibra de coco por uma, duas e três vezes, sobre a produção de baby leaf de alface, cultivar Elisa, no sistema de produção em bandejas, em ambiente protegido.

Nesse sistema produtivo o substrato utilizado, bem como o sistema radicular das plantas que tiveram suas folhas colhidas, permanece nas bandejas tornando-se resíduo. Esse resíduo pode ser reaproveitado em novo cultivo, reduzindo o custo de produção, bem como o impacto ambiental, devido à redução de substrato descartado no ambiente.

Paralelamente se tomou cuidado com a sanidade do substrato reutilizado. Com as sucessivas reutilizações existe a possibilidade do aparecimento dos agentes causais do tombamento da alface (Pythium aphanidermatum e Rhizoctonia solani) e consequentemente pode haver perdas devido ao aparecimento da doença.

Assim foi utilizada a técnica da solarização para a limpeza dos substratos reaproveitados. Esse método é eficiente no controle de patógenos, pragas e plantas daninhas e utiliza basicamente a energia solar, tendo baixo custo. O equipamento utilizado para a realização da solarização na pesquisa desenvolvida foi o Coletor Solar, desenvolvido pelo IAC e pela Embrapa Meio Ambiente. Nesse equipamento, o substrato foi deixado por 24 horas, em dia de céu aberto e grande incidência solar para que os patógenos causadores do tombamento fossem eliminados.


Detalhe do Coletor Solar. Foto: Moraes LAS

Como resultado da pesquisa verificou-se a possibilidade de produzir baby leaf de alface em substrato fibra de coco, reaproveitado, por até três vezes. A produtividade, aos 39 dias após a semeadura, verificada no substrato de terceiro reuso foi aproximadamente 38% maior que a obtida no substrato sem reuso. Verificou-se média de 7,4kg/m-2 no substrato de terceiro reuso, 5,9kg/m-2 no de segundo reuso, 5,6kg/m-2 no de primeiro reuso e 4,6kg/m-2 no substrato sem reuso. As características químicas e físicas do substrato fibra de coco, independentemente do número de reutilizações, possibilitaram o cultivo de alface, com destaque para o pH que ficou próximo de 6,7 e para a CE que variou de 0,28dS/m a 0,35dS/m dependendo do número de reutilizações do substrato. Com relação à sanidade do substrato, o processo de solarização empregado foi eficiente na eliminação dos patógenos causadores do tombamento em alface.

Ainda não é possível prever se o mercado de baby leaf atingirá um contingente maior de consumidores no futuro. Porém, trata-se de um mercado potencial, um nicho muito interessante que demonstra de maneira emblemática como o agronegócio das hortaliças é dinâmico e está sempre em busca de inovação.
Clique aqui para ler o artigo na exemplar 80 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas.


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