Conhecida por “chipagem” dos sistemas de injeção eletrônica de motores diesel, a prática divide opiniões e gera muita polêmica entre proprietários de máquinas agrícolas e fabricantes
07.03.2016 | 20:59 (UTC -3)
Todos conhecem o termo tunning, utilizado normalmente para designar as melhorias e personalizações feitas em automóveis com propósitos como melhorar seu desempenho e deixar seu visual mais bonito, entre outros. Nas máquinas agrícolas, embora o termo não seja utilizado, muitos proprietários também investem na tentativa de deixá-las melhores, modificando características originais de tratores e outras máquinas. As alterações, exceto nos casos raros, não têm propósito estético, mas o de melhorar o desempenho das máquinas.
O avanço tecnológico dos últimos anos oferece ao mercado motores com maior reserva de torque e que conseguem manter a potência máxima em uma faixa maior de rotações, além de apresentarem menor consumo de combustível. Entretanto, o desempenho original nem sempre satisfaz os proprietários que, analogamente ao que acontece no mercado automobilístico, buscam através da popular “chipagem" obter ganhos de torque e potência para aumentar a capacidade da máquina para realizar trabalho.
O QUE É A “CHIPAGEM" DE MOTORES
Em sistemas de injeção de combustível governados eletronicamente, sejam eles de automóveis, caminhões ou tratores, independentemente do tipo de combustível, computadores controlam os parâmetros da injeção, como o ponto de ignição, a quantidade de combustível a ser injetado e até a pressão do turbo. A “chipagem" nada mais é do que a reprogramação dos parâmetros originais dos chips dos computadores de bordo ou a adição de chips suplementares, de forma que o sistema de injeção funcione com base em parâmetros que incrementam o desempenho.
O QUE OS FABRICANTES DIZEM
É improvável que você encontre algum fabricante de máquinas agrícolas que seja a favor da alteração de aspectos originais e estas restrições também existem no caso de mudanças nos motores. Quando um fabricante define o projeto de uma máquina, por exemplo um trator, considera inúmeros aspectos técnicos e mercadológicos diferentes para determinar o nível de torque e potência que esta terá ao sair da linha de produção.
Como exemplo, podemos citar: a necessidade de possuir um trator com determinado nível de potência para complementar o portfólio para brigar por uma faixa específica do mercado; a disponibilidade de motores que permitam atingir o nível de potência requerido com a longevidade esperada; a necessidade de utilizar componentes comuns a tratores com outros níveis de potência; a capacidade da transmissão do trator; e a relação peso-potência que o trator poderá suportar.
Para trabalho pesado é necessário que ele suporte ao menos 60kg/Hp; as capacidades dos sistemas de arrefecimento e lubrificação do motor; a faixa de rotação em que o motor irá trabalhar; o nível de rotação em que irá desenvolver torque e potência máxima; o nível de emissões permitido nos mercados onde a máquina será comercializada.
Quando as primeiras unidades do produto são fabricadas, são submetidas a milhares de horas de testes para verificar e validar o projeto em cada aspecto. Não raro, componentes e sistemas completos são redesenhados e voltam para novas baterias de ensaios e testes até serem aprovados e o produto ser liberado para a produção e o mercado. Como domina o projeto e executa com rigor a metodologia e os processos, o fabricante conhece o produto como ninguém e logo se supõe que sua palavra seja a última em termos do que pode ou não ser feito com o produto final.
Alterar os parâmetros que determinam como o sistema de injeção deve funcionar muda todo o equilíbrio entre os diversos critérios que o fabricante definiu como ótimos para um determinado modelo de máquina. Estas mudanças podem implicar em uma série de consequências negativas e causar prejuízos ao cliente final, eventualmente refletindo na imagem do produto e da marca; daí o motivo pelo qual fabricantes são absolutamente contra a prática, pois todos desejam ter uma relação longeva com seus clientes.
O QUE DIZEM AS EMPRESAS QUE FAZEM CHIPAGEM
Quando se fala em “chipagem" de motores de máquinas agrícolas, existe no mercado uma série de empresas que realizam estes tipos de alterações. Elas utilizam diferentes tecnologias para chegar ao resultado final, mas ao considerar seus argumentos em favor das alterações nos sistemas de injeção, verificam-se alguns bastante comuns. Entre eles, pode-se citar que os fabricantes não tiram o máximo de potência possível de uma máquina e normalmente há uma reserva não explorada de torque e potência; a programação feita de fábrica nem sempre é tão eficiente quanto deveria ser, e que sempre há uma forma de melhorar o que já foi feito. Mas um dos argumentos mais utilizados é devido a aspectos mercadológicos, em uma mesma família de máquinas, como, por exemplo, três níveis de potência diferentes, utilizam-se motores e outros componentes com aspectos físicos iguais, mas distintos somente na programação que resultará em três níveis distintos de potência. Alterar os parâmetros de modelos de mais baixa potência, de forma que se aproximem dos modelos com potência mais alta, vai proporcionar o desempenho do modelo de alta potência, por uma pequena fração do preço que se pagaria para adquirir a máquina de potência mais alta.
Há diferenças significativas entre as empresas que prestam este tipo de serviço e enquanto algumas possuem áreas de engenharia que procuram explorar situações onde realmente há capacidade para melhorar o desempenho, a despeito da perda da garantia original da máquina, outras aplicam suas fórmulas mágicas de forma indiscriminada e irresponsável (traduzindo: picaretagem), com consequências que você vai conhecer a seguir.
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA “CHIPAGEM"?
O fato é que a maioria das soluções oferecidas no mercado realmente consegue elevar o nível de desempenho das máquinas. Entretanto, pode trazer consigo consequências indesejáveis, que precisam ser de conhecimento prévio do proprietário que desejar realizar alguma alteração. As principais consequências indesejáveis na chipagem de motores podem ser: alterações nos níveis de potência trazem consigo elevação do consumo específico de combustível da máquina; motor utilizado na máquina pode originalmente estar trabalhando próximo de sua capacidade máxima e ultrapassar este limite implica em riscos de falha prematura; sistema de arrefecimento pode não ter capacidade de sobra para acomodar o aumento de potência e o consequente aumento do calor gerado, podendo resultar em sobreaquecimento e falha do motor; combustível adicional injetado na câmara de combustão pode não ser queimado conforme previsto originalmente e resultar em carbonização e danos ao motor, além de aumentar o nível de emissões. Além disso, a potência adicional pode não resultar em desempenho adicional no caso de tratores, se o mesmo não tiver capacidade de receber lastro adicional para tracionar implementos mais pesados ou em maior velocidade, e se a capacidade máxima de lastreamento do trator for ultrapassada para alcançar uma relação peso-potência satisfatória, a vida útil da transmissão pode ser reduzida drasticamente. Mesmo que o motor tenha capacidade para gerar torque e potência adicionais, a máquina irá perder a garantia de fábrica.
A QUAIS CONCLUSÕES PODEMOS CHEGAR?
Aumentos de potência através de alterações nos sistemas de injeção de combustível de máquinas agrícolas sempre foram possíveis, pois mesmo nos sistemas com bombas injetoras governadas mecanicamente é fácil aumentar o débito de combustível. A eletrônica, no entanto, tornou a prática mais fácil. É preciso considerar que por mais sedutor que o aumento do torque e da potência possa parecer, pode comprometer a vida útil da máquina, haja vista o que ocorre em um esporte bastante popular em alguns países, o tractor pulling, onde são ultrapassados todos os limites para obter o máximo desempenho.
A julgar pelo número de empresas focadas no mercado de “chipagem", a demanda está bem aquecida, inclusive na aplicação em máquinas agrícolas. Estas empresas continuarão a oferecer suas soluções, buscando seu lugar ao sol com produtos que impressionam por realmente aumentar o desempenho, em boa parte dos casos, de forma bastante irresponsável.
Quanto aos proprietários das máquinas, estes precisam buscar informação para conhecer os riscos em que incorrerão ao abraçar práticas não recomendadas pelos fabricantes de suas máquinas. De qualquer forma, como donos das mesmas, podem decidir o que fazer com elas e ao optar por fazer alterações, aceitar as consequências, para o bem e para o mal.
Os fabricantes de máquinas agrícolas, por outro lado, reservam-se o direito de recusar solicitações de garantia se constatarem que a máquina trabalhou fora dos parâmetros originais, independentemente das justificativas apresentadas. Estes não têm muito a fazer em relação ao tema, a não ser orientar suas redes de concessionários com o posicionamento que devem ter junto aos clientes.
E o concessionário do fabricante de máquinas agrícolas, qual o papel deve assumir? Como representante da fábrica, precisa assumir o posicionamento da marca e principalmente orientar seus clientes com o máximo de informação possível, de forma que possam tomar decisões bem fundamentadas e de preferência evitar qualquer alteração.
Para medir o desempenho
Para medir o desempenho dos motores de máquinas agrícolas, sejam eles originais ou não, utilizam-se equipamentos chamados dinamômetros. Eles funcionam como um freio que aplica carga ao motor da máquina (diretamente no volante ou na TDP – Tomada de Potência), simulando condições de trabalho e ao mesmo tempo medindo parâmetros como torque, potência e rotação.
Os dinamômetros são utilizados para comparar máquinas em demonstrações, pré-amaciar motores e, principalmente, para diagnosticar problemas de desempenho. Os dinamômetros da marca AW Dynamometer estão presentes em mais de 90% dos concessionários de máquinas agrícolas nos Estados Unidos e na América Latina são distribuídos com exclusividade pela Innova Solutions. Para conhecer mais sobre a representação de dinamômetros no Brasil pode-se acessar o site http://innovasolutions.ag.