Grãos depreciados: podridão branca da espiga do milho
A podridão branca da espiga é uma doença que causa enormes prejuízos em milho, por afetar e depreciar o produto final
Por Fabio Kagi, engenheiro-agrônomo pela Faculdade de Ciências Agronômicas, da UNESP, campus de Botucatu, e gerente adjunto de Inovação e Sustentabilidade da Andef
O que você pensaria se eu lhe dissesse que há uma ação que pode ser feita hoje em relação ao manejo de pragas, com efeitos duradouros e capaz de evitar perdas de produção, diminuir o número de aplicações ao longo dos anos, reduzir custos de combustível e mão de obra na aplicação de defensivos agrícolas, além de contribuir para a sustentabilidade do manejo? E se, com a mesma ação, eu demonstrasse que o custo de manejo seria, no mínimo, 48% menor?
Estou me referindo ao incrível poder do manejo da resistência das pragas aos defensivos agrícolas, no qual o simples ato de não usar o mesmo produto repetidamente para o manejo de uma mesma praga tem papel fundamental. Ao longo de toda a história da humanidade, o homem trava uma batalha com as pestes agrícolas pelo mesmo alimento. Se não realizasse nenhuma forma de controle, basicamente o homem comeria o resto do que as pragas - que estão no mundo há 1 bilhão de anos - não comeram. São milhões e milhões de anos de adaptação para sobrevivência em condições adversas inseridas na carga genética e evolução destas espécies.
Quando aplicamos um defensivo, as pragas suscetíveis morrem e as resistentes sobrevivem e se multiplicam. Na próxima geração, vão existir mais resistentes que havia anteriormente. Continuadamente, esse processo leva à existência apenas de indivíduos resistentes, o que significa, na prática, que aquele produto já não mais controlará aquela doença.
Para alimentar um mundo que terá 9,8 bilhões de pessoas em 2050, teremos que controlar as pragas de maneira adequada e os defensivos agrícolas são especificamente desenhados para isso. A cada nova molécula, as indústrias de pesquisa e desenvolvimento de defensivos agrícolas investem cerca de US$ 286 milhões de dólares ao longo de 10 anos de condução de testes para garantir a eficácia e a segurança dos produtos.
Pesquisadores da Embrapa publicaram em 2017 uma interessante circular técnica que demonstra que, em média, os custos para o controle de plantas daninhas saltaram de R$ 62,57 por hectare em áreas sem resistência para R$ 285,98 por hectare em áreas com resistência. Em uma fazenda de 1.000 hectares, essa diferença de custo de manejo representa mais de R$ 220 mil por ano da renda de uma família de agricultores.
Por isso, é importante mudar a mentalidade a ser adotada no manejo da resistência, saindo do manejo reativo (usar a ferramenta até quebrar e encontrar uma nova) para o manejo proativo (evitar quebrar a ferramenta, mantendo a sua eficácia), ressaltando que os agricultores muitas vezes não conseguem prever o potencial de aumento dos custos para controle após o desenvolvimento da resistência.
A mensagem final é clara: os defensivos agrícolas são seguros e eficazes no combate às pragas; já evoluíram muito ao longo dos anos e a indústria continuará investindo em busca de novas soluções. A regra de ouro é valorizar e preservar o que já existe, pois qualquer produto que for superexposto perderá rapidamente sua eficácia e o processo de desenvolvimento longo impede que sejam lançados novos modos de ação facilmente.
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