Manejo da adubação em milho

Adequado manejo da adubação tem se mostrado fundamental para garantir altas produtividades e retorno econômico, tanto no verão como na safrinha

18.08.2020 | 20:59 (UTC -3)

O adequado manejo da adubação tem se mostrado fundamental para garantir altas produtividades e retorno econômico na cultura do milho, tanto no verão como na safrinha. A oferta adequada de nutrientes deve ocorrer desde os estádios iniciais, quando a demanda é grande e o sistema radicular ainda pequeno, explorando poucos centímetros de solo ao redor das plântulas recém-emergidas.

FATORES CRÍTICOS

Nos estádios iniciais de desenvolvimento do milho a demanda por nutrientes é grande e o sistema radicular ainda pequeno, explorando poucos centímetros de solo ao redor das plântulas recém-emergidas. O estádio de cinco folhas é crítico, pois é quando tem início a diferenciação floral (Fancelli & Dourado Neto, 1996), e ocorre muito cedo, cerca de três semanas após a semeadura. Acrescenta-se que, do total acumulado pelo milho, entre 60% e 70% do nitrogênio e entre 65% e 85% do potássio são absorvidos até o florescimento, que corresponde à metade da duração do ciclo da cultura (Cantarella & Duarte, 2004)

Os fertilizantes são aplicados preferencialmente na semeadura, pelos fatores já mencionados. Porém, no caso do nitrogênio, o parcelamento na semeadura e em cobertura permite, de maneira geral, maior eficiência de uso do nutriente proveniente do fertilizante, pois no momento da cobertura, o sistema radicular está crescendo rapidamente e explorando maior volume de solo. O potássio também é parcelado em cobertura, para evitar possível efeito salino, quando os fertilizantes NPK são aplicados no sulco de semeadura.

A omissão do nitrogênio na semeadura com aplicação de todo o fertilizante em pré-semeadura ou em cobertura, após a emergência das plantas, pode acarretar prejuízos. Na safra de verão, Duarte & Cantarella (2005) verificaram que a omissão de nitrogênio na semeadura, em comparação à dose de 60 kg/ha no sulco de semeadura mais cobertura, reduziu o potencial o produtivo da cultura e a eficiência da adubação nitrogenada (Figura 2).  Em milho safrinha, o mesmo efeito foi constatado por Duarte & Kappes (2016), em São Paulo e Mato Grosso, ao estudarem o efeito da adubação de cobertura, no estádio de cinco a seis folhas, na presença e ausência de 39 kg/ha de N na semeadura (Figura 3). Ressalte-se que a maioria do milho safrinha na região centro-oeste é cultivado sem nitrogênio na semeadura, aplicando-o apenas a lanço em cobertura. A simples antecipação da adubação nitrogenada a lanço, de preferência, para o momento da semeadura, pode aumentar substancialmente a rentabilidade da cultura nesta região.

A antecipação da adubação nitrogenada que seria aplicada em cobertura no milho para o momento do manejo da espécie cultivada para a produção de palha no outono-inverno tem sido praticada em algumas áreas em sistema de plantio direto com grande acúmulo de matéria orgânica e palhada, pela facilidade operacional, pois os agricultores têm tempo e máquinas livres no final do inverno. O argumento é que o nitrogênio aplicado na aveia pode ser imobilizado momentaneamente pela matéria orgânica presente no sistema, em especial pelos resíduos com alta relação C/N, e se tornar disponível para a cultura do milho posteriormente, pois os fatores que favorecem a mineralização do nitrogênio retido na fração orgânica – alta temperatura e umidade – são os mesmos que promovem o crescimento do milho. Porém, apresenta riscos de grandes perdas de nitrogênio por lixiviação e decréscimos no aproveitamento do nitrogênio fertilizante e na produtividade de grãos em anos com precipitação pluvial alta no período que antecede ao plantio do milho, como é frequente no verão.

A técnica que agora se discute é o aumento da dose do nitrogênio aplicado na semeadura para melhorar o arranque das plantas. O nitrogênio na semeadura tem crescido gradativamente no Brasil, assim como a primeira (ou única) aplicação em cobertura tem sido feita cada vez mais cedo. Mas, qual é a dose máxima que se pode aplicar na semeadura? A resposta depende principalmente dos seguintes fatores: a) o modo de aplicação do fertilizante na semeadura - no sulco ou a lanço; b) do espaçamento entre linhas; e c) da textura do solo. Doses elevadas aplicadas no sulco de semeadura podem provocar efeito salino e comprometer o desenvolvimento inicial de parte das plantas e, em casos extremos, o estande.  De maneira geral, a soma das doses de N e de K2O no sulco de semeadura não deve ultrapassar 80 kg/ha, principalmente se o formulado contiver também sulfato e/ou o espaçamento entre linhas for entre 80cm e 90cm (em espaçamentos reduzidos, por exemplo, 45cm a 50 cm, a quantidade de fertilizante distribuída por metro linear no sulco de semeadura é menor, pois ocorre distribuição em maior número de linhas).

A lixiviação é maior em solos arenosos que em solos argilosos, aumentando o risco de perdas do nitrogênio aplicado na semeadura antes da absorção pelas raízes; o volume de solo explorado pelas raízes é muito pequeno imediatamente após a emergência das plântulas.  Neste caso, a maior parte do nitrogênio deve ser aplicada em cobertura, em uma ou mais vezes. Ao comparar a aplicação da dose total apenas na semeadura com a aplicação de 36 kg/ha de N na semeadura acrescido de nitrogênio em cobertura, no estádio de cinco folhas, Duarte & Cantarella (2016) verificaram que o parcelamento foi fundamental para obter melhores produtividades em Votuporanga (São Paulo), em solo arenoso, mas, pouco efetivo em Mococa (São Paulo), em ambiente de baixo potencial produtivo e solo argiloso (Figura 4).

É importante mencionar que fertilizantes de liberação lenta estão sendo desenvolvidos para aplicação em alta dose na semeadura, ofertando parte do nutriente imediatamente após a aplicação e parte por tempo prolongado, minimizando as perdas por lixiviação.

A consolidação da semeadura direta e de dois cultivos por ano na mesma área, juntamente com melhoria da fertilidade do solo, permitiu a adoção da adubação de sistemas. Em solos com acidez corrigida e teores de fósforo e potássio acima do nível crítico, a recomendação da adubação é feita por ano agrícola, e não exclusivamente para cada cultura, utilizando como referência a reposição dos nutrientes exportados pelos grãos. Acrescenta-se que na maioria das lavouras dos chapadões do centro-oeste, Maranhão e Tocantins, os fertilizantes contendo NPKS são aplicados a lanço. Devido ao apelo operacional, com janelas curtas para a realização das operações de colheita da soja e semeadura do milho safrinha, é comum aplicar todo o fósforo (e às vezes enxofre) na pré-semeadura da soja e apenas nitrogênio e potássio no milho safrinha.

A adubação de sistemas não se deve restringir aos critérios do balanço de nutrientes e da facilidade operacional, mesmo em solos de fertilidade construída. Estudos realizados pelo IAC e Fundação MT revelaram o efeito de arranque da adubação fosfatada no milho safrinha, associado ao nitrogênio e/ou enxofre, aumentando sua produtividade, sem prejuízo na soja em sucessão, onde o fósforo deixou de ser aplicado parcialmente ou totalmente. Porém, este efeito não é evidente em ambientes com teor de fósforo muito alto (próximo ou superior a duas vezes o valor do nível crítico) e/ou potencial produtivo é limitado (Figura 3).

Portanto, o adequado manejo da adubação tem se mostrado fundamental para garantir altas produtividades e retorno econômico na cultura do milho no verão e na safrinha.

Figura 1. Produtividade média do milho primeira e segunda safras no centro-oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e nas regiões tradicionais de cultivo de milho (Paraná e São Paulo) no período 1984 a 2015. Fonte: CONAB, Séries Históricas.
Figura 1. Produtividade média do milho primeira e segunda safras no centro-oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e nas regiões tradicionais de cultivo de milho (Paraná e São Paulo) no período 1984 a 2015. Fonte: CONAB, Séries Históricas.
Figura 2. Resposta média dos híbridos DKB 333B e Master ao nitrogênio aplicado todo em cobertura e parcelado na semeadura (60 kg/ha) e o restante em cobertura em Votuporanga (solo textura arenosa) no sistema plantio direto. Fonte: Duarte (2003).
Figura 2. Resposta média dos híbridos DKB 333B e Master ao nitrogênio aplicado todo em cobertura e parcelado na semeadura (60 kg/ha) e o restante em cobertura em Votuporanga (solo textura arenosa) no sistema plantio direto. Fonte: Duarte (2003).
Figura 3. Resposta do milho safrinha 2B587 PW ao nitrogênio em cobertura no estádio de cinco folhas, sem e com aplicação de nitrogênio no momento da semeadura (39 kg/ha), em Sapezal (MT) e Pedrinhas Paulista (SP). Fonte: Duarte & Kappes (2016)
Figura 3. Resposta do milho safrinha 2B587 PW ao nitrogênio em cobertura no estádio de cinco folhas, sem e com aplicação de nitrogênio no momento da semeadura (39 kg/ha), em Sapezal (MT) e Pedrinhas Paulista (SP). Fonte: Duarte & Kappes (2016)
Figura 4. Resposta do milho DKB 290 PRO3 ao nitrogênio aplicado todo no sulco de semeadura, em comparação à aplicação na semeadura (36 kg/ha) mais cobertura no estádio de cinco folhas, em Mococa (A) e Votuporanga (B), estado de São Paulo, safra 2015/16.  Fonte: Duarte & Cantarella (2016)
Figura 4. Resposta do milho DKB 290 PRO3 ao nitrogênio aplicado todo no sulco de semeadura, em comparação à aplicação na semeadura (36 kg/ha) mais cobertura no estádio de cinco folhas, em Mococa (A) e Votuporanga (B), estado de São Paulo, safra 2015/16. Fonte: Duarte & Cantarella (2016)


Aildson Pereira Duarte e Heitor Cantarella, Instituto Agronômico (IAC); Claudinei Kappes, Fundação MT


Artigo publicado na edição 213 da Cultivar Grandes Culturas.

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