É hora de arrumar a casa

Por Coriolano Xavier, Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM

30.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

A rentabilidade média das atividades agropecuárias perdeu a corrida para o retorno de vários investimentos, em 2015. Por conta de nosso mergulho cambial, por exemplo, o dólar e os fundos cambiais dispararam e mostraram valorização de 47%. Ouro e títulos indexados ao IPCA e CDI ficaram com rentabilidade média acima de inflação, que alcançou 10,7% em 12 meses (IGP-DI), segundo levantamento da FGV.

Enquanto isso, o retorno econômico das atividades agropecuárias analisadas pela FGV perdeu a corrida contra a inflação e uma única ficou acima do rendimento da poupança: a pecuária de corte tecnificada (ciclo completo), que obteve a melhor rentabilidade média do campo, com 8,79%*. No outro extremo, com a pior performance entre as atividades analisadas pela FGV, ficou o fornecimento de cana-de-açúcar, cujo resultado foi negativo.

No geral, portanto, pode-se dizer que em 2015 a rentabilidade média do campo encolheu, frente ao retorno de aplicações no mercado de capitais. Muitos dirão que esse contraponto faz parte do vai e vem de uma economia capitalista e, também, de um país como o nosso, onde muitas coisas caem, menos os juros. Faz sentido, mas não elimina outra questão: será que essa contração de rentabilidade já foi sentida integralmente no campo?

O palpite é não. Primeiro porque os números da FGV são médios, ou seja, alguns perderam mais do que outros. Além disso, temos ainda o sucesso do agro nos últimos anos, temos o potencial embriagante do dólar alto, para quem vende no mercado externo, e temos a desigualdade técnica entre produtores, que ameniza os impactos para quem tem maior poder de alavancagem tecnológica.

Claro que a crise com “C” maiúsculo ainda não chegou no agronegócio. Mas os sinais de 2015 quanto ao resultado econômico do campo deixam um alerta: a economia tem suas próprias leis e, com elas em mente, é preciso preparar e mapear o futuro próximo. É hora de olhar para dentro de casa e, se for o caso, fazer uma boa arrumação. E também buscar novas ideias e soluções, para não comprometer a capacidade de competir, dentro e fora do país.

Por exemplo: otimizar os processos produtivos, de gestão e relações com o mercado – de clientes a fornecedores e parceiros. Ficar de olho na evolução dos custos, mas de um modo que vá muito além das clássicas intervenções em folha de pagamentos. E tentar aprofundar ou revisar as relações na cadeia produtiva em que se atua. No fundo, é assim que as adaptações bem sucedidas acontecem no agro, quando se tem novas realidades no ambiente de negócios.

Afinal, a experiência ensina que os empresários que se saem melhor diante de grandes desafios são aqueles que se preocupam com a competitividade e a eficiência, antes do olho do furacão chegar. A crise brasileira está por todo lado, é uma policrise – da economia à governabilidade – e mais dia menos dia vai tentar entrar em nosso quintal. E saber agir em uma hora como essa é essencial, pois não haverá espaço para a perplexidade.

Tem uma coisa, ainda, que vale à pena reforçar: toda essa precaução comentada acima não significa uma atitude intimidada. Muito pelo contrário: significa buscar uma operação sustentável e ir além. Significa ser assertivo, manter os planos, criar alternativas, trabalhar duro, espantar o pessimismo e permanecer no rumo sonhado.

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