Agricultura: proibir ou educar?
Por Ulisses R. Antuniassi, Professor Titular do Departamento de Engenharia Rural - FCA/UNESP - Botucatu/SP
Para a expansão na produção de soja, tecnologias e inovações foram agregadas, basicamente pela introdução de materiais genéticos, melhoria nas práticas de manejo e consolidação do sistema plantio direto nas fronteiras agrícolas. Entretanto, isto não impediu o surgimento de problemas que reduzem a produtividade, como por exemplo, doenças causadas por fungos, bactérias e nematoides. Dentre as doenças que preocupam o agricultor, além da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), destacam-se a mancha alvo (Corynespora Cassiicola) e a antracnose (Colletotrichum truncatum), que ocorrem com frequência nas lavouras do Centro-Oeste.
A aplicação de fungicidas na maioria dos casos é eficiente e economicamente viável para garantir a qualidade e a produtividade das culturas. Assim, avaliou-se o efeito dos fungicidas azoxistrobina, trifloxistrobina+protioconazol, piraclostrobina+epoxiconazol, fluxapiroxade+piraclostrobina, piraclostrobina, picoxystrobina+ciproconazol, e tebuconazole no controle de antracnose e mancha alvo, e nos caracteres morfológicos de soja no Norte de Mato Grosso.
O ensaio foi conduzido na Fazenda Andorinha, no município de Lucas do Rio Verde/Mato Grosso, utilizando-se a cultivar BMX Desafio RR 8473 RSF, semeadura realizada na primeira quinzena de outubro, em sistema de plantio direto. A 1ª aplicação dos fungicidas (Tabela 1) foi realizada no florescimento da soja e a 2ª, 15 dias após.
Tabela 1. Tratamentos utilizados no controle de antracnose e mancha alvo na cultura na soja, cultivar Desafio 8473, em Lucas do Rio Verde/MT.
TRATAMENTO | SEQUÊNCIA DE APLICAÇÃO | PRINCÍPIO ATIVO | DOSE (L ha-1) * |
1 | - | Testemunha (sem controle) | - |
2 | 1ª | Azoxistrobina | 0,2** |
2ª | Azoxistrobina | 0,2** | |
3 | 1ª | Piraclostrobina+Epoxiconazol | 0,5 |
2ª | Fluxapiroxade+Piraclostrobina | 0,3** | |
4 | 1ª | Piraclostrobina | 0,3 |
2ª | Piraclostrobina+Epoxiconazol | 0,5 | |
5 | 1ª | Fluxapiroxade+Piraclostrobina | 0,3** |
2ª | Fluxapiroxade+Piraclostrobina | 0,3** | |
6 | 1ª | Trifloxistrobina+Protioconazol | 0,3 |
2ª | Trifloxistrobina+Protioconazol | 0,3 | |
7 | 1ª | Picoxystrobina+Ciproconazol | 0,3** |
2ª | Picoxystrobina+Ciproconazol | 0,3** | |
8 | 1ª | Tebuconazole | 0,3 |
2ª | Tebuconazole | 0,3 |
TRATAMENTO
SEQUÊNCIA DE APLICAÇÃO
PRINCÍPIO ATIVO
DOSE (L ha-1) *
1
-
Testemunha (sem controle)
-
2
1ª
Azoxistrobina
0,2**
2ª
Azoxistrobina
0,2**
3
1ª
Piraclostrobina+Epoxiconazol
0,5
2ª
Fluxapiroxade+Piraclostrobina
0,3**
4
1ª
Piraclostrobina
0,3
2ª
Piraclostrobina+Epoxiconazol
0,5
5
1ª
Fluxapiroxade+Piraclostrobina
0,3**
2ª
Fluxapiroxade+Piraclostrobina
0,3**
6
1ª
Trifloxistrobina+Protioconazol
0,3
2ª
Trifloxistrobina+Protioconazol
0,3
7
1ª
Picoxystrobina+Ciproconazol
0,3**
2ª
Picoxystrobina+Ciproconazol
0,3**
8
1ª
Tebuconazole
0,3
2ª
Tebuconazole
0,3
*Doses recomendadas pelo fabricante; **Adjuvante aplicado de acordo com recomendação do fabricante.
No controle de antracnose, não houve diferença significativa entre os tratamentos e isto pode ter ocorrido pela baixa severidade da doença no experimento, devido provavelmente à baixa concentração do inóculo no local.
Considerando a área abaixo da curva de progresso de mancha alvo (AACPMA), os tratamentos T2-Azoxistrobina, T3-Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, T4-Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol, T5-Fluxapiroxade+Piraclostrobina e T8-Tebuconazole, apresentaram os menores valores de AACPMA, apresentando eficiência no controle de mancha alvo. O melhor controle da doença foi proporcionado pelo T3-Piraclostrobina+Epoxiconazol (1ª aplicação) e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, na 2ª aplicação.
Com relação às características morfológicas, não houve diferença entre os tratamentos na altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da primeira vagem (cm), número de vagens por planta e número de grãos por planta (Tabela 2). De maneira geral, a aplicação de fungicidas não exerceu efeito sobre estas características morfológicas avaliadas, muito provavelmente pelo fato de serem influenciados pela população de plantas. Entretanto, a aplicação de T5-Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina, T3-Piraclostrobina+ Epoxiconazol e Fluxapiroxade+ Piraclostrobina, T2- Azoxistrobina e Azoxistrobina, e T6-Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol, proporcionou acréscimo na massa de 1000 grãos de 1,62%, 1,24%, 0,77% e 0,44%, respectivamente, em relação à testemunha. A massa de 1000 grãos é uma informação que pode ser adotada na comparação da qualidade dos grãos, apesar de ser comumente realizada em ensaios, como componente de rendimento de diversos cultivos. Além de ser um parâmetro utilizado para cálculo de densidade de semeadura, também pode ser empregado como fator comparativo da qualidade de sementes.
Tabela 2. Altura de planta (cm), diâmetro de colmo (cm), altura de inserção da 1ª vagem (cm), nº de vagens por planta, nº de grãos por planta e massa de 1000 grãos de plantas de soja, cultivar Desafio 8473, submetidas a aplicação foliar de fungicidas
Tratamentos | Altura de planta (cm) | Diâmetro de colmo (cm) | Altura inserção 1ª vagem (cm) | Nº de vagens planta-1 | Nº de grãos planta-1 | Massa de 1000 grãos (g) |
Testemunha | 80,80a | 0,24a | 16,16a | 32,86a | 70,60 a | 147,30b |
Azoxistrobina+Azoxistrobina | 78,76a | 0,22a | 16,44a | 31,40a | 71,23 a | 148,44a |
Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina | 79,13a | 0,30a | 15,32a | 39,70a | 85,06 a | 149,14a |
Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol | 75,87a | 0,25a | 15,78a | 36,10a | 79,96 a | 146,36b |
Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina | 81,43a | 0,30a | 17,31a | 41,50a | 89,06 a | 149,70a |
Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol | 74,28a | 0,30a | 16,26a | 35,96a | 75,43 a | 147,96a |
Picoxystrobina+Ciproconazol e Picoxystrobina+Ciproconazol | 76,75a | 0,25a | 15,89a | 34,53a | 72,90 a | 146,33b |
Tebuconazole e Tebuconazole | 81,48a | 0,32a | 16,15a | 36,13a | 78,03 a | 145,96b |
Tratamentos
Altura de planta (cm)
Diâmetro de colmo (cm)
Altura inserção 1ª vagem (cm)
Nº de vagens planta-1
Nº de grãos planta-1
Massa de 1000 grãos (g)
Testemunha
80,80a
0,24a
16,16a
32,86a
70,60 a
147,30b
Azoxistrobina+Azoxistrobina
78,76a
0,22a
16,44a
31,40a
71,23 a
148,44a
Piraclostrobina+Epoxiconazol e Fluxapiroxade+Piraclostrobina
79,13a
0,30a
15,32a
39,70a
85,06 a
149,14a
Piraclostrobina e Piraclostrobina+Epoxiconazol
75,87a
0,25a
15,78a
36,10a
79,96 a
146,36b
Fluxapiroxade+Piraclostrobina e Fluxapiroxade+Piraclostrobina
81,43a
0,30a
17,31a
41,50a
89,06 a
149,70a
Trifloxistrobina+Protioconazol e Trifloxistrobina+Protioconazol
74,28a
0,30a
16,26a
35,96a
75,43 a
147,96a
Picoxystrobina+Ciproconazol e Picoxystrobina+Ciproconazol
76,75a
0,25a
15,89a
34,53a
72,90 a
146,33b
Tebuconazole e Tebuconazole
81,48a
0,32a
16,15a
36,13a
78,03 a
145,96b
Médias seguidas com as mesmas letras não diferem significativamente pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.
De acordo com as condições em que foi estabelecido e conduzido este trabalho, os resultados permitem concluir que não houve diferença na altura (cm) de planta, altura (cm) da inserção da 1ª vagem, número de vagens por planta e número de grãos por planta. Em relação à antracnose (C. truncatum), os tratamentos não apresentaram diferença significativa no controle desta doença, porém o tratamento com Piraclostrobina+Epoxiconazol na 1ª aplicação e Fluxapiroxade+Piraclostrobina na 2ª aplicação demonstrou maior eficiência no controle de mancha alvo (C. cassiicola) e maior massa de 1000 grãos. Além disto, o agricultor deve adotar medidas preventivas para o controle destas doenças, como rotação de cultura, uso de cultivares resistentes, semente certificada, tratamento de sementes, população de plantas, adubação e espaçamento adequados. Se for necessária a aplicação foliar de fungicidas, consultar um engenheiro agrônomo e seguir as recomendações técnicas dos produtos.
Box – Soja no Brasil
A cultura da soja tem grande destaque no cenário mundial, pois é fonte de produtos alimentícios, tanto para animais quanto para humanos, além do crescente uso de biocombustíveis fabricados a partir do grão que é de grande interesse mundial em energia renovável e limpa.
Segundo dados da Conab, a última safra de soja no Brasil, 2013/2014, atingiu recorde de produção (86.120,8 mil toneladas), com aumento na área produzida, totalizando 30.173,1 mil hectares, sendo o Mato Grosso responsável por 28,55% desta área.
O artigo completo está na edição 190 da Cultivar Grandes Culturas.
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Por Ulisses R. Antuniassi, Professor Titular do Departamento de Engenharia Rural - FCA/UNESP - Botucatu/SP
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