Danos intensos

Ataques de percevejos em grãos, vagens, ramos, hastes e em sementes levam severos prejuízos aos produtores de soja

18.04.2016 | 20:59 (UTC -3)

Nas diferentes regiões produtoras de soja ocorre um complexo de espécies de percevejos, sendo que Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Nezara viridula são consideradas as mais importantes. A predominância de uma dessas espécies varia em função do local, do clima das cultivares e do estágio e desenvolvimento da cultura. Da mesma forma a extensão dos danos depende, entre outros fatores, do estágio de desenvolvimento das plantas durante o período de infestação, visto que ocorrem desde a fase vegetativa.


Dentre os percevejos, a espécie Euschistus heros se destaca com populações superiores no Cerrado. Essa espécie é nativa da América Tropical e está bem adaptada aos climas mais quentes, sendo abundante no Centro-Oeste do Brasil. E. heros é o menos polífago dentre os percevejos da soja. Durante a safra, podem ocorrer até três gerações, que se alimentam também de leiteiro, algodoeiro e mamona, por exemplo. Após a colheita da soja, busca talhões mais tardios ou abrigos, onde se alimenta destas e de outras plantas hospedeiras. Completa a quarta geração e entra em dormência (diapausa) na palhada da cultura anterior ou nas suas proximidades, onde se protege da ação de parasitoides e predadores. Nesse período não se alimenta e consegue sobreviver graças às reservas de gorduras que foram armazenadas antes da diapausa. Esta espécie é uma das que menos migram entre as ocorrentes na cultura da soja.

Danos causados pelos percevejos

Como outros percevejos fitófagos, E. heros é, em geral, responsável por reduções no rendimento e na qualidade das sementes, em consequência dos danos causados pelas picadas em si, bem como pela inoculação de patógenos, como o fungo Nematospora corylii. Este fungo é uma levedura que pode causar a deterioração das sementes, semelhante ao ataque de bactérias. No campo, os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros. A má-formação das vagens e dos grãos provoca a retenção foliar nas plantas de soja, que não amadurecem na época da colheita. Por isso, o complexo de percevejos representa alto risco à produtividade da soja. Podem causar danos irreversíveis à cultura, alimentando-se diretamente dos grãos desde o início da sua formação nas vagens.

Os percevejos sugam a seiva nos ramos, hastes ou vagens, injetam toxinas e/ou inoculam fungos que provocam manchas nos grãos. Quando sugam ramos, causam a “retenção foliar" (onde não há maturação fisiológica das folhas e/ou hastes, enquanto as vagens maturam). Este sintoma pode ser causado por todas as espécies de percevejos. Esta retenção foliar parece, possivelmente, estar associada ao desequilíbrio do ácido indolacético (AIA) na planta, decorrente da sucção causada pelos insetos. Entre as espécies, e com a mesma densidade populacional, é nítida uma maior retenção foliar causada pelo ataque de P. guildinii, enquanto E. heros é a espécie que causa a menor retenção. As plantas com retenção foliar apresentam folhas e hastes verdes em intensidades variáveis e, normalmente, demonstram um grande número de vagens com grão chocho que, dependendo da intensidade do ataque, podem apresentar todas as vagens chochas. Devido a esse intenso desequilíbrio, a planta continua verde, tentando repor a carga perdida.

Quando o ataque dos percevejos ocorre nas vagens, as perdas podem atingir valores superiores a 30%. Quando atacam vagens em formação, podem causar o surgimento de vagens chochas, secas e/ou sem a formação de grãos e, em decorrência disso, as vagens secam e se tornam marrons. Se o ataque ocorrer nas vagens em fase de granação, podem aparecer deformações, murchamentos e manchas nos grãos. Neste caso, os grãos podem perder o valor para a comercialização, por terem o teor de óleo reduzido. As perdas no poder germinativo das sementes podem ultrapassar 50%, além de terem queda no vigor. Segundo Fraga & Ochoa (1972) em legumes menos desenvolvidos, o conteúdo das sementes pode ser totalmente sugado, resultando em sementes chochas e achatadas, reduzidas a uma lâmina. O ataque durante a fase de desenvolvimento resulta em sementes pequenas, enrugadas e deformadas, podendo-se visualizar as manchas características na área da punctura. Na fase em que a soja encontra-se com sementes formadas, mas ainda com elevado teor de água, as manchas ocasionadas pela alimentação são bem características, no entanto, o enrugamento é menos pronunciado (Turner, 1967).

Quando o ataque dos percevejos se dá nos grãos, ocorre perda na qualidade e também das sementes, principalmente pela inoculação do fungo Nematospora corylii, que causa a mancha-de-levedura, também conhecida como mancha-de-fermento. Estas manchas nos grãos, no entanto, são causadas especialmente por Nezara viridula e Piezodorus guildinii, e são menos comuns em ataques de E. heros.

O efeito da alimentação por sugadores de sementes, quer seja econômico (redução da produtividade da cultura no campo) ou ecológico (redução da aptidão da planta), resulta em morte dos embriões e enfraquecimento das sementes e, consequentemente, diminui sua viabilidade, a germinação e o vigor. Da mesma forma, ocorrem reduções no número de sementes produzidas pela planta, alteração na composição química e introdução de patógenos.

As sementes de soja têm viabilidade reduzida proporcionalmente à extensão do dano, conforme afirmam Galileo & Heinrichis (1978). O teste de tetrazólio, além de avaliar a viabilidade e o vigor dos lotes de semente, fornece o diagnóstico das causas pela redução da qualidade, como danos mecânicos, deterioração por umidade e danos de percevejos, que são os principais problemas que afetam a qualidade fisiológica da semente de soja. Porém, além desses, os danos de secagem, de estresse hídrico e de geada podem também ser facilmente visualizados pelo teste (Costa et al, 2007). A porcentagem de danos de percevejo é dada pela classe TZ1-8. A classe TZ 4-5 mostra sementes de soja viáveis e a classe TZ 6-8 para sementes inviabilizadas, isto é, que são mortas pela ação da picada do percevejo, sementes de soja viáveis.

Em estudo realizado comparando diferentes cultivares de soja e grupos de maturação, os resultados referentes ao teste de tetrazólio mostraram que os percevejos presentes na área sem controle toruxeram dano total às sementes (TZ 1-8); para a classe TZ 4-5 a diferença entre a área tratada e a não tratada foi inferior. Para a classe TZ 6-8 a porcentagem de sementes mortas foi superior na área sem controle de percevejos. No entanto, nessa classe observou-se um aumento na porcentagem nos materiais dos grupos de maturação médio e tardio, pelo fato de estarem mais expostos a uma população superior e por mais tempo. Os dados deste trabalho confirmam que a intensidade dos danos está correlacionada com a população de insetos, com o grupo de maturação dos materiais e com o manejo de pragas.

Do total de danos causados por percevejos, os mais prejudiciais são aqueles localizados próximos ou na região embrionária, que também inviabilizam a utilização do grão para semente (Gazzoni 1998).

Em suma, os percevejos causam danos à soja pela redução da produtividade por efeitos nas vagens e/ou grãos, pelas reduções do poder germinativo e vigor das sementes, pelas reduções nos teores de proteínas e óleos dos grãos e ainda pela inoculação de patógenos nas sementes. Além disso, por promoverem a retenção foliar no final do ciclo da soja, o que, geralmente, leva a um maior uso de dessecantes.

Nível de controle

Níveis de controle indicados para os percevejos da soja, atualmente, com o objetivo de controle químico: a) campos de produção de grãos = 2 percevejos/metro da cultura; b) campos de produção de sementes = 1 percevejo/metro da cultura. As amostragens são realizadas com uso do pano de batida em um metro linear de fileira de plantas (pano de batida 1m x 1m)

Durante horas mais quentes do dia (entre 10h e 16h) estes insetos não são facilmente localizáveis no campo, devendo ser evitados estes horários para as amostragens. As amostragens devem ter maior intensidade nas bordaduras da lavoura onde, em geral, os percevejos começam seu ataque. Em função do uso de cultivares de soja pertencentes a diferentes grupos de maturação, as primeiras lavouras colhidas servem de fonte de infestação de percevejos para as lavouras vizinhas e, por isso, as cultivares mais tardias, que ainda estão desenvolvendo vagens e grãos, devem ser levadas em consideração. Sendo assim, recomenda-se muita atenção com essas lavouras de período tardio, pois a intensa e rápida migração dos insetos pode causar danos irreversíveis à soja.

Controle

A implementação de até três pulverizações de inseticidas nas bordaduras (150m a 200m de largura, durante a fase vegetativa) tem sido útil para controlar os percevejos migrantes, especialmente em cultivares tardias, antes que estes insetos estabeleçam gerações capazes de causar danos acentuados. Inclusive, trata-se de uma técnica muito seletiva aos inimigos naturais, já que a área é pulverizada parcialmente. A pulverização de bordaduras é eficiente se o ataque da praga ainda não está generalizado por toda a lavoura, o que pode ser diagnosticado nas amostragens.

Outro momento importante é realizar o controle na fase compreendida entre R2 e R5.1, se a praga estiver presente em níveis populacionais consideráveis. Esta tem sido uma prática muito eficaz para prevenir danos econômicos e grandes surtos de percevejos no final de safra. Surtos que, muitas vezes, têm levado os produtores a fazer aplicações sucessivas para controlar a praga, às vezes três ou quatro delas e, mesmo assim, tendo danos. Outro aspecto a se considerar é a diminuição das populações de final de safra, onde atingem o pico populacional e costumam migrar para outras áreas ou servir de sobreviventes na região, tornando-a muito infestada. Logicamente, as aplicações de final de safra devem ser criteriosamente baseadas em amostragens, levando em conta as restrições quanto ao intervalo de segurança (carência) do agroquímico utilizado (Figura 1).

Figura 1 - Dinâmica da população de percevejos na cultura da soja

Figura 2 - Sementes de soja, com problemas de lesões de danos de percevejo identificados pelo teste de tetrazólio, submetidas ao período de pré-condicionamento de 6 horas/41ºC. Londrina, PR, 2007. (Costa et al, 2007)

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