Consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras

​O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite diversificar o cultivo sem alterar a sucessão com a soja

30.12.2019 | 20:59 (UTC -3)

O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite diversificar o cultivo sem alterar a sucessão com a soja. Com investimento mínimo, é possível aumentar a cobertura do solo com palha, melhorar a produtividade da oleaginosa em sucessão e, ainda, produzir forragens para animais na entressafra.

 O milho safrinha é cultivado em um ambiente peculiar, com menor oferta de água e calor em comparação ao milho verão, o que desfavorece o crescimento do capim de origem tropical. Assim, o maior desafio não é suprimir o crescimento inicial do capim, mas proporcionar boas condições para o seu estabelecimento e desenvolvimento. A forrageira pode ser pastejada em curto espaço de tempo (dois meses, em média) ou utilizada como planta de cobertura. Para tanto, a gramínea não pode produzir sementes antes do manejo, precisa cobrir a área uniformemente, ser de fácil dessecação e proporcionar bom desempenho da máquina semeadora de soja. A Brachiaria ruziziensis é a espécie que atende todos estes requisitos.

Os métodos de implantação da braquiária que se adaptam à maioria dos ambientes de milho safrinha são os simultâneos ou com uma mínima defasagem de tempo em relação à semeadura do milho, seja com distribuição das sementes a lanço ou no sulco de semeadura.

O consócio com linha intercalar é o melhor método quando o milho safrinha é cultivado com espaçamento entre linhas de 80cm ou 90cm. A máquina que semeia a soja é a mesma que vai ser utilizada no milho safrinha, com o mesmo espaçamento entre carrinhos. Normalmente o produtor tira uma linha sim outra não após a semeadura da soja, deixando a máquina preparada para o espaçamento de 80cm a 90cm do milho safrinha. No caso da utilização do consórcio o produtor deve manter as linhas a 45cm e utilizar discos diferentes para o capim: em semeadoras convencionais é utilizado o disco universal de sorgo de 5mm com 50 furos e nas semeadoras pneumáticas, o disco de canola de 1,2mm a 1,5mm com 120 furos. Apenas a linha do milho deve ser adubada e, para tanto, se deve tampar a saída da caixa de adubo na linha onde será semeada a planta forrageira.

A distribuição a lanço é utilizada em lavouras com espaçamento reduzido e deve ser feita antes da semeadura do milho para permitir que os mecanismos das linhas da máquina semeadora-adubadora incorporem parte das sementes do capim. As desvantagens deste método são o maior gasto de sementes (pelo menos o dobro em relação ao consórcio intercalar) e a emergência em reboleiras, conforme as condições climáticas na época da semeadura do milho safrinha. A distribuição simultânea pode ser feita também na própria linha de semeadura, utilizando semeadora de milho com caixa para sementes de capins ou fazer a adaptação da terceira caixa em oficina regional.

 No caso do milho safrinha, não é recomendada a técnica da mistura das sementes com o adubo de semeadura, pois o posicionamento profundo do adubo pode retardar a emergência do capim. Também a mistura da semente com o fertilizante nitrogenado de cobertura não é adequada, porque o adubo é distribuído algum tempo depois da emergência do milho.

O consórcio de milho safrinha e plantas forrageiras permite, além de diversificação das espécies cultivadas, a maximização da ciclagem de nutrientes. São acumulados aproximadamente 35kg de potássio (K20) por tonelada de massa seca da parte aérea da B. ruziziensis que, após a dessecação com glifosato, são rapidamente mineralizados e contribuem para a nutrição da soja cultivada em sucessão, como demonstrado na Figura 1.

Figura 1 - Concentração dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S na parte aérea das espécies forrageiras Panicum maximum cultivar Tanzânia, Brachiaria ruziziensis, B. brizantha cultivar Marandu e B. decumbens) em consórcio com milho safrinha  Média de cultivo intercalar com milho safrinha, no estádio de maturidade fisiológica dos grãos, em 2008 e 2009, na região do Médio Paranapanema, estado de São Paulo (Palmital, Campos Novos Paulista, Pedrinhas Paulista e Florinea).  Fonte: Batista et al (PAB, v.46, 2011)
Figura 1 - Concentração dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S na parte aérea das espécies forrageiras Panicum maximum cultivar Tanzânia, Brachiaria ruziziensis, B. brizantha cultivar Marandu e B. decumbens) em consórcio com milho safrinha Média de cultivo intercalar com milho safrinha, no estádio de maturidade fisiológica dos grãos, em 2008 e 2009, na região do Médio Paranapanema, estado de São Paulo (Palmital, Campos Novos Paulista, Pedrinhas Paulista e Florinea). Fonte: Batista et al (PAB, v.46, 2011)


Cuidados

O correto estabelecimento do consórcio depende de sementes do capim de boa qualidade. A maioria das sementes de forrageiras objetiva atender ao mercado pecuarista que, pela necessidade de maior volume para distribuição a lanço e pouco impacto da presença de terra e plantas daninhas na formação das pastagens, adota padrões oficiais relativamente baixos na comercialização das sementes. O mínimo do valor cultural (VC) para comercialização é 50. O VC é o produto entre a pureza (%) e a germinação (%, em tetrazólio) das sementes. No caso do consórcio, devem-se utilizar sementes com VC acima de 70, que, por apresentarem altos índices de germinação e pureza, são apropriadas para distribuição nas pequenas quantidades requeridas no cultivo consorciado e reduzem a chance de contaminar a área com nematoides e plantas daninhas. O gasto de sementes VC 70 no cultivo intercalar é de aproximadamente 3kg/ha.

Desenvolvimento do capim e supressão com herbicidas

Geralmente, não há diferença significativa na produtividade de grãos de milho comparando-se o milho no consórcio e o milho solteiro, não sendo necessária a aplicação de herbicidas para a supressão parcial do crescimento do capim. Da mesma maneira, não há necessidade de aumentar a adubação nitrogenada de cobertura do milho safrinha para compensar possível absorção pelo capim. Porém, quando se utiliza população elevada da forrageira, híbridos de milho de folhas mais eretas e/ou quando a época de semeadura do milho é antecipada (período mais quente) a produção de massa do capim pode ser favorecida, atingindo 3t/ha ou mais, afetando o desenvolvimento e a produtividade do milho. Embora esses casos sejam poucos, deve-se acompanhar o desenvolvimento inicial do capim para verificar a necessidade de supressão com uma subdose de nicussulfuron (até 100ml/ha do produto comercial para a Brachiaria ruziziensis).

Controle de pragas

Atualmente, com o emprego do milho transgênico Bt pode ser necessária a aplicação de inseticidas para controle de lagartas especificamente no capim, pois as braquiárias são atacadas pela maioria das lagartas.

Dessecação e semeadora da soja

 Para assegurar os benefícios do consórcio na produtividade de soja é necessária uma dessecação apropriada do capim (aproximadamente duas semanas antes) e ajustes na plantadeira da soja (aumento do tamanho e afiação do disco de corte, por exemplo) para a distribuição uniforme e contato direto das sementes com o solo (sem bolsas de ar).

Rotação do consórcio

É recomendado evitar o cultivo contínuo do consórcio milho safrinha-braquiária e não implantá-lo em solos com alta população de Pratylenchus brachyurus porque esse nematoide se multiplica nas duas espécies. Assim, o sistema deve ser alternado nos diferentes talhões da propriedade para maximizar os benefícios da quebra da monocultura. Geralmente, quando a braquiária é cultivada por apenas um ciclo, o aumento da matéria orgânica e da porosidade do solo suplanta a possível multiplicação de pragas e nematoides, que pode se tornar um problema se o capim continuar sendo utilizado na mesma área. 


Aildson Pereira Duarte, Isabella Clerici De Maria, Instituto Agronômico (IAC)


Artigo publicado na edição 190 da Cultivar Grandes Culturas. 

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