Controversa economia arrozeira
Por Henrique Dornelles, Presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz)
Os recursos hídricos são vitais para a manutenção da vida. Contudo, a humanidade tem observado significativas alterações no ciclo hidrológico, por meio da distribuição irregular das chuvas. O crescimento populacional e a consequente urbanização aumentaram a contaminação dos recursos hídricos. Estes fatores somados às anomalias climáticas causaram a redução da área de captação da água da chuva e a diminuição da impermeabilização do solo. Dessa forma, nossos recursos estão cada vez mais escassos e essa é uma questão amplamente discutida no âmbito global.
A distribuição irregular das chuvas e a limitação no armazenamento e aproveitamento dos recursos podem causar déficit hídrico no solo e comprometer a produção de alimentos. No Brasil, diversas regiões têm sofrido com as alterações no ciclo hidrológico, conforme apresentado na Figura 1.
Frequência de ocorrência de eventos críticos de seca nos municípios do Brasil (2003 a 2015)
Embora o Nordeste lidere em termos de concentração relativa de seca, podemos constatar a ocorrência também em regiões produtoras de café, como o norte do estado do Espírito Santo. A seca ali resultou em queda na produção do café conilon, com impactos em toda a cadeia produtiva.
Em vários segmentos econômicos, a gestão deste recurso natural nos processos produtivos se tornou imprescindível e, no universo do café, essa é uma marca registrada. As instituições integrantes do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, desenvolveram soluções tecnológicas para o uso da água na cafeicultura que, além de racionalizar o uso da água, permitem otimizar a produtividade, a qualidade do produto e reduzir custos de produção. Tais tecnologias, como os sistemas mais eficientes de irrigação, a técnica do estresse hídrico controlado, o sistema de limpeza de águas residuais no processo pós-colheita e o polímero hidroretentor de água contribuem para o aumento da renda dos cafeicultores.
No Brasil, a área irrigada total é estimada em 6,11 milhões de hectares ou 21% do potencial nacional, que corresponde a 29,6 milhões de hectares. Em relação à cafeicultura, segundo estudo da Embrapa Café, cerca de 25% a 30% da área brasileira de cultivo de café no País utiliza métodos de irrigação modernos, com equipamentos que reduzem o uso para uma média de mil litros de água por quilo de café. Este é um número representativo, pois resulta em uma queda de 50% de consumo do recurso natural, na comparação com cinco anos atrás.
O cafeeiro irrigado, dentro do contexto da sustentabilidade, é uma realidade nas mais diversas áreas de produção no Brasil, sendo que a adoção de sistemas de irrigação mais eficientes, como o gotejamento é plenamente acessível aos cafeicultores.
Podemos destacar que o futuro do manejo da irrigação envolve o uso de sensores modernos e automáticos com acesso remoto, que é uma necessidade básica para a produção sustentável na cafeicultura irrigada, envolvendo critérios técnicos e operacionais. Um futuro cada vez mais presente no dia a dia de muitas fazendas do Brasil, líder global em tecnologia e inovação na produção de alimentos, fibras e energias renováveis.
Nesse sentido, o Cecafé atua ativamente para promover as melhores práticas de utilização dos recursos hídricos. O Programa Produtor Informado passou por uma reformulação em 2016, após parceria com a Plataforma Global do Café. O curso passou a adotar o Currículo de Sustentabilidade do Café, que elenca os 18 itens fundamentais para alcançar uma produção sustentável. O uso da água e irrigação é um dos capítulos ensinados com o intuito de levar a noção de gestão responsável dos recursos hídricos até o pequeno produtor.
Além disso, o conteúdo auxilia na adoção de boas práticas nos sistemas produtivos, de forma a harmonizar o uso racional dos recursos naturais, como água e solo, promovendo o aumento da rentabilidade do negócio, melhorias na gestão da propriedade e qualidade do café, além de garantir a sustentabilidade do meio ambiente e a melhoria das condições de vida da população rural.
O engajamento das entidades de representação e das instituições de pesquisa, o desenvolvimento e inovação na cafeicultura fortalecerão a difusão de novas tecnologias com treinamento técnico especializado, com metas definidas e também com acompanhamento dos resultados, o que proporciona elevada adesão, continuidade e reafirma o papel de liderança do Brasil na sustentabilidade da cultura de café.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Por Henrique Dornelles, Presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz)
Por Prof. Dr. Sylvio Henrique Bidel Dornelles – Pesquisador Chefe do Dept. de Biologia - GIPHE/UFSM, Prof. Dr. Danie Martini Sanchotene – Curso de Agronomia - URI, o Acadêmico Andrei Beck Goergen – Curso de Agronomia/UFSM e o Eng.