Apreensões de Agrotóxicos Ilegais

Cada agrotóxico, como produto comercial, é formulado com um ou mais produtos técnicos que, por sua vez, tem alta concentração de um ingrediente ativo e alguma quantidade de impurezas.

15.09.2017 | 20:59 (UTC -3)

Para se obter um agrotóxico a ser usado nas lavouras é intencionalmente acrescentado outros componentes na formulação, para melhorar as caraterísticas do produto final. Também podem existir componentes “não intencionais” ou “contaminantes” nas formulações. Os cuidados nos processos de síntese e de formulação garantem a qualidade e a segurança do produto técnico e do agrotóxico formulado. Nos agrotóxicos ilegais esses cuidados não são assegurados.

Assim, o uso de agrotóxicos ilegais pode trazer grandes consequências adversas à fauna, flora e aos ecossistemas, além de intoxicar trabalhadores, produtores e moradores rurais, contaminar alimentos e água de abastecimento e afetar a saúde da população.

Os efeitos econômicos negativos do uso de um agrotóxico ilegal podem ser significativos, pois a eficácia agronômica pode ser menor que a esperada, não controlando efetivamente a praga, doença ou planta infestante, além de poder causar toxicidade às plantas cultivadas e comprometer a lavoura.

Em 2016 houve uma apreensão realizada pela Polícia Civil de Medianeira, no Paraná, de carga descrita inicialmente como “substância granulada não identificada”. Amostra do produto apreendido foi enviada ao Instituto de Tecnologia do Paraná - TECPAR, para análise. O resultado mostrou surpreendentemente que 25 ingredientes ativos de agrotóxicos, de diferentes grupos químicos e classes de uso, estavam presentes. Havia inseticidas, acaricidas, formicidas, cupinicidas, fungicidas, e um regulador de crescimento e um herbicida no mesmo produto apreendido. Diante disso, pode-se antecipar que no uso desse agrotóxico ilegal a eficácia agronômica estaria comprometida, além dos perigos à saúde humana e ao meio ambiente.

Dado o grande número de ingredientes ativos, suas possíveis interações químicas são imprevisíveis. Essa situação é ainda mais perigosa se considerarmos também as interações envolvendo as impurezas e os outros componentes da formulação.

Um levantamento realizado como parte de uma dissertação de mestrado na Universidade de Brasília – UnB mostrou que, enquanto em 2008 foram redigidos 126 laudos pela Polícia Federal envolvendo agrotóxicos, em 2009 o total foi 150 laudos, representando um incremento de 19% em um ano. Em 10% dos agrotóxicos ilegais apreendidos não havia nenhuma identificação do que continham.

Na mesma dissertação, os resultados das análises químicas de agrotóxicos ilegais evidenciaram algumas amostras líquidas muito diluídas e amostras sólidas com concentrações do ingrediente ativo acima de qualquer produto formulado registrado no Brasil.

Conforme observado na dissertação, as divergências entre as concentrações desses ingredientes ativos nos agrotóxicos ilegais e nos devidamente registrados são preocupantes.

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