Nutrição eficiente
A máxima produtividade econômica, com sustentabilidade, é uma das principais metas perseguidas pela pesquisa e pelos produtores brasileiros
A decisão quanto à época de semeadura do milho se dá em função dos fatores de riscos climáticos que afetam diretamente o rendimento de grãos por meio da alteração na eficiência metabólica das plantas. Com isso, há necessidade de se programar a semeadura do milho considerando-se todas as suas fases fenológicas, o que é extremamente difícil, pois os fatores climáticos são eventos com previsão estimada de ocorrência com confiabilidade relativa.
No Brasil, a época de semeadura do milho é definida, em geral, pela distribuição das chuvas, que influenciam diretamente a oferta de água no solo, cujo consumo, dessa cultura, durante seu ciclo completo de desenvolvimento, se situa entre 500mm e 800mm.
O milho “safrinha" é amplamente cultivado em sucessão com a cultura de verão, fato esse que o torna dependente da época de colheita da cultura antecessora sendo, em geral, semeado nos meses de janeiro, fevereiro e março. Sua produtividade em relação ao milho de “verão" naturalmente é menor, prejudicada por limitações como redução de chuvas, radiação e temperaturas.
A água disponível no solo às plantas de milho tem relação com seus diferentes estádios fenológicos, sendo o período compreendido entre a pré-florada, pendoamento e maturação dos grãos da espiga os mais críticos para uma deficiência hídrica.
Sobre este assunto se pode citar o trabalho realizado pelos professores Fábio Régis de Souza e Raphael Maia Aveiro Cessa, juntamente com os acadêmicos José Luiz Faccin e Luiz Miguel Kadar, na área experimental da Faculdade de Agronomia do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), em Dourados, Mato Grosso do Sul, com intuito de avaliar o desenvolvimento de milho “safrinha" com base na oferta de água no solo. O trabalho aborda a importância das possíveis perdas produtivas de grãos de milho quando a planta “passa" por períodos de estresse hídrico.
Concluiu o estudo que o cultivo do milho no sistema irrigado proporcionou melhor desenvolvimento das plantas e produtividade de grãos, em função da maior frequência e quantidade de água em menor tensão negativa no solo entre os limites de capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, reduzindo riscos referentes ao estresse hídrico sobre o desenvolvimento das plantas. Além disso, o trabalho ressaltou que o monitoramento da água no solo por meio de tensiômetros é uma ótima ferramenta para monitorar e/ou controlar a oferta da água no solo em sistemas irrigados na cultura do milho.
O trabalho foi conduzido em um Latossolo Vermelho Distroférrico argiloso semeado em linhas espaçadas a 0,90m, com cinco sementes de milho por metro linear. A adubação adotada foi a recomendada para milho “safrinha" considerando os dados da análise de solo. A área experimental foi dividida em irrigada e não irrigada, onde instalaram-se tensiômetros de mercúrio na profundidade 0,2m a partir da superfície do solo (Figura 1) com intuito de monitorar o potencial mátrico da água no solo com auxílio da equação 1.
Figura 1 - À esquerda, o esquema da instalação de um tensiômetro de mercúrio. À direita, a área experimental contendo milho onde foram instalados tensiômetros de mercúrio
FONTE: Adaptado de Santos, C. R. Dos. Uso de tensiômetro na irrigação do coqueiro. Embrapa Semiárido (CPATSA). Petrolina, 2001. (Instruções Técnicas da Embrapa Semiárido nO 51)
Equação 1:
em que,
Øm - potencial mátrico da água no solo, dado em metros de coluna de água; hHg - altura da coluna de Hg (leitura do tensiômetro), dado em metro; hc - altura do nível de Hg na cubeta em relação à superfície do solo, dado em metro; z - profundidade de instalação do centro da cápsula porosa do tensiômetro, dado em metro. O resultado deve ser convertido para bar.
Sempre que o tensiômetro instalado na área irrigada registrasse tensão de água no solo entre -0,40bar e -0,70bar era fornecida uma lâmina de irrigação para repor a quantidade de água no solo até a capacidade de campo. Para proceder ao cálculo de reposição de água no solo fez-se uso, portanto, dos dados de registro da tensão da água no solo e da sua curva característica de umidade para profundidade de 0m – 0,20m (Figura 2).
Figura 2 - Curva de retenção de umidade do solo (Latossolo Vermelho distroférrico) na área experimental. Profundidade 0 – 0,20m
*Os valores das tensões -15bar e -0,10bar correspondentes às umidades 27,88% e 32,62% representaram respectivamente o ponto de murcha permanente (PMP) e a capacidade de campo (CC)
As características do milho avaliadas em intervalos de sete dias foram: massa fresca da parte aérea e raiz, estatura de plantas, número de espigas e produtividade final a 14% de umidade. Em cada exame eram obtidos valores médios das características avaliadas provenientes da amostragem de dez plantas na área experimental.
De acordo com a Figura 3 pode-se observar que o milho cultivado sob sistema de irrigação teve maiores valores de massa fresca da parte aérea e raiz. A massa fresca da parte aérea é uma característica que provavelmente correlaciona-se positivamente com folhas mais espessas e mais pesadas por área. Tais folhas, portanto, terão um aparato fotossintético mais eficiente à produção de metabólitos.
Figura 3 - Massa fresca da parte aérea (MFPA) e raiz (MFR) do milho “safrinha" cultivado em Dourados-MS. (n=10)
Os resultados apresentados demonstram que o déficit hídrico no período reprodutivo e no processo de desenvolvimento da planta aparenta perdas de tamanho da parte área e no rendimento de grãos pelo déficit de água. Na Figura 4 pode-se observar também que as plantas de milho cultivadas na área irrigada tiveram estatura mais elevada na maior parte do período de desenvolvimento.
Figura 4 - Estatura de plantas do milho “safrinha" cultivado em Dourados-MS. (n=10)
O melhor desenvolvimento do milho no sistema irrigado esteve relacionado à maior frequência em que a água permaneceu no solo em maior quantidade e menor tensão negativa entre os limites de capacidade de campo e ponto de murcha permanente para a profundidade de 0m a 0,20m (Figura 5), fato esse determinante aos principais estágios fenológicos, emissão de pendão, florada e polinização, grão leitoso e grão farináceo.
Figura 5 - Tensão de água no solo para a profundidade de 0-0,20m na área cultivada com milho em sistema irrigado e não irrigado
De acordo com a curva de umidade do solo, entre as tensões de -0,40bar e –0,70bar, foi possível manter o teor de umidade do solo acima dos 30% no sistema irrigado. No sistema não irrigado foram observados valores de tensão de água no solo entre -0,90 bar e -1bar. Nesse caso, a umidade do solo permaneceu abaixo de 30%.
A presença de níveis adequados de água no período que se entende do pendoamento ao início do enchimento de grãos proporciona aumento da produtividade do milho, sendo, portanto, o déficit de água limitante ao rendimento do milho. Ainda, o estresse hídrico no pendoamento, especialmente no florescimento e maturação da planta de milho, ocasiona decréscimos na produção de grãos.
O melhor desenvolvimento do milho cultivado sob sistema de irrigação proporcionou número médio final de espigas maior em comparação ao milho cultivado sem irrigação (Figura 6). Dessa forma, maior produtividade de grãos de milho no sistema irrigado (81,50 sacos de 60kg) já era esperada, com uma diferença de 30,85 sacos de 60kg a mais por hectare (aumento de aproximadamente 30%) quando comparado ao sistema não irrigado.
Figura 6 - Número de espigas do milho “safrinha" cultivado em Dourados-MS. (n=10)
Clique aqui para ler o artigo na edição 178 da Cultivar Grandes Culturas.
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